sexta-feira, 29 de outubro de 2010

"E tudo que era efêmero se desfez. E ficaste só tu, que é eterno."

VI
Tu tens um medo:
Acabar.
Não vês que acabas todo dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo dia.
No amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.
E então serás eterno.

*

VII
Não ames como os homens amam.
Não ames com amor.
Ama sem amor.
Ama sem querer.
Ama sem sentir.
Ama como se fosses outro.
Como se fosses amar.
Sem esperar.
Tão separado do que ama, em ti,
Que não te inquiete
Se o amor leva à felicidade,
Se leva à morte,
Se leva a algum destino.
Se te leva.
E se vai, ele mesmo...



Cecília Meireles
In: CÂNTICOS

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Siga o padrão e seja moderno

"Porém, não conheci nenhuma criança que se convertesse num bom adulto. As crianças não se convertem em bons adultos. Eu não sou uma boa adulta. A bondade não existe. Sou má, muito má.
(...)
O meu corpo é o meu protesto.
Não quero trazer nada ao mundo excepto o meu profundo horror pelo mundo. Depois dos desastres do século XX apenas posso sentir horror. Depois de tamanha exibição do mal, o homem já não pode redimir-se. Quem pode voltar a amar os homens? Quem pode voltar a cantar em louvor dos homens? Alguém disse que depois dos horrores do século XX não era possível continuar a escrever. A palavra tinha-se tornado absurda, insuficiente. Os filhos são como a palavra, insuficientes. Seria bom para a minha mente aceitar a insuficiência da palavra e do homem. Mas dentro de mim há um qualquer crocodilo que me impede de aceitar isso. Cada vez suporto menos a injustiça, cada vez suporto menos a maldade. "


(Lesões Incompatíveis com a Vida, Angelica Liddell)

Garotas universitárias acabam conhecendo diversos tipos de homens, e os cachorros/cafajestes são os que mais aparecem. Essa subespécie de homem eu mal conhecia até entrar na Universidade. Sempre evitei contato. Mas, hoje em dia, eles cercam o meu cotidiano e o das minhas amigas... De forma que eu já vi e ouvi de tudo. E sei muito bem que muitos só querem o nosso corpinho (e ai de quem falar que é mentira, eles mal sabem mentir!), e nós, mulheres, fingimos que a não sabemos disso...(bom, algumas fingem... outras realmente não desconfiam mesmo) Assim, logo, não me surpreendeu o namorado da minha amiga ter dado em cima de meninas na frente dela (ou ainda ele a ter traido no mesmo churrasco em que a namorada estava), não me surpreendeu o rapaz ingênuo e um pouco retardado que está querendo sair comigo e com uma amiga minha ao mesmo tempo.

Não. Quase nada hoje em dia me deixa espantada. Nem mesmo o fato contado por uma amiga de trabalho. Um cara com seus trinta anos saiu com ela, foi algo casual. Ela está na graduação, ele na pós. Rolava uma conversa legal, ficaram, ele tentou transar com ela e ela não quis. Ponto. Ponto final porque depois disso ele a evita.

Não fico mais bestificada com as mentiras e esses joguinhos. Sou indiferente à essa vidinha dita moderna, em que tudo é comércio e onde amor e sexo são quase meio que produtos. Amor à venda, assista à televisão e entenda o amor. Reproduza o amor que vende. Faça o sexo vendido. Tem um modelo certo para tudo nessa vida. Siga o padrão e seja moderno. Não se importe em criar laços, eles são substituiveis...

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Pequeno Relato

"Eu hei de ter ao invés de paz inquietação"
(Mart'nália)

E no fim das contas, eu gosto dele. Não da forma usual. Não... Ele me irrita. Totalmente. E é isso que, por mais estranho que possa parecer, eu gosto dele. A eterna surpresa que é ele, os conflitos internos que me provoca. Vive me provocando. Ele despertou em mim algo que eu tinha esquecido que existia: o sentimento de revolta. E o que é um ser sem esse sentimento de revolta?

Uma vez, um professor falou em aula que o problema da sociedade atualmente é justamente a ausencia do sentimento de revolta. Tudo cai na normalidade, e nada é questionado.

Uma vez revoltados, pensamos. E não é um pensar que fica apenas no cérebro, não é um pensar frio. É mais. O corpo vibra com esse sentimento. Eu sou feliz com a minha revolta.

Depois disso, sinto que dormi por longos dois anos. Sem pensar. Anestesiada.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Tudo ou Nada (ou um poema bobo)

E ele que era tudo
agora era nada para mim
E eu, que era tanto
não sobrou nada no fim

Eu era e nada sou agora
Ele agora é nada
e nada me deixou
Deixou-me ser nada
Fez de mim flor
Que floresce e murcha
Que encanta, perfuma e morre.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Bomba Molotov

Sou uma bomba molotov
prestes a causar uma guerra civil
Me deixe lhe dar um toque
Nada do que você já construiu
vai permanecer de pé

Não me importo com as suas certezas
Minha única certeza é a de que tudo desmoronará
Estou aqui para causar conflitos
reflexões para lhe presentear.

Cuidado comigo
Coringa em pele de menina
Sou quase um vício
Goliarda com cara de bailarina
Sou apenas uma mulher, não anjo,
prestes a dançar um último tango
com você, que se acha malandro.

Não tenha esperanças
eu sou ótima
quando se trata de jogar
xadrez, buraco, ideias
Não trago verdades ou respostas
sou aquela que te acompanha na queda.

domingo, 17 de outubro de 2010

Umas transam por amor, algumas transam por prazer, outras sem prazer, algumas transam para comer

"Do you know what it feels like for a girl?
Do you know what it feels like in this world?"
(Madonna)



Alguém já tentou definir o que é o amor? Paras as meninas prostitutas descritas em "Meire in love" (do Grupo Bagaceira de Teatro), o amor era idealizado num beijo de lingua. Em um beijo de lingua? Sim, num beijo de lingua.

Para muitos, um beijo é apenas um simples beijo. Não é um sinal de amor, e sim de desejo. Prostitutas não beijam, elas apenas transam. Reza a lenda que os homens nunca beijam uma mulher deste tipo. Para uma prostituta, o que é amor e o que é desejo? Elas não transam por amor e muito menos por prazer (se duvidar, nunca sentiram prazer no sexo). Essas meninas que tiveram a infância roubada, descritas nessa peça, representam muitas crianças nordestinas: elas se deitam com homens para matar a fome. Por um prato de comida. Onde entra o amor e o desejo na vida delas?

O sexo é mecanico. O amor, um sonho idealizado em um simples beijo. As meninas comentam que Meire, prostituta, conheceu um gringo que a beija na boca e que vai tirá-la dessa vida. E o beijo é motivo de suspiro, Meire é invejada porque beija.

"Meire in love" acaba sendo uma representação triste da realidade. Algo tão normal nas nossas vidas que se torna banal. Violência e prostituição infantil. No fundo, junto com a infância roubaram dessas meninas tudo. Seus sonhos serão destruidos e amor é algo muito metafísico para ser encontrado. Sobreviver é mais importante do que o amor e o desejo. Mas, até quando o ser humano consegue sobreviver tendo seus sonhos e fantasias constantemente destruidos?

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Livros

"O discurso pedagógico dominante, dividido entre a arrogância dos cientistas e a boa consciência dos moralistas, está nos parecendo impronunciável. As palavras comuns começam a nos parecer sem qualquer sabor ou a nos soar irremediavelmente falsas e vazias. E, cada vez mais, temos a sensação de que temos de apreender de novo a pensar e escrever, ainda que para isso tenhamos de nos separar da segurança dos saberes, dos métodos e das linguagens que já possuímos (e que nos possuem)."

(Jorge Larossa. Pedagogia Profana - Danças, piruetas e mascaradas)

"Há muito que as mulheres são as esquecidas, as sem-voz da História. O silêncio que as envolve é impressionante. Pesa primeiramente sobre o corpo, assimilado à função anônima e impessoal da reprodução. O corpo feminino, no entanto, é onipresente: no discurso dos poetas, dos médivos ou dos políticos; em imagens de toda natureza - quadros, esculturas, cartazes - que povoam as nossas cidades. Mas esse corpo exposto, encenado, continua opaco. Objeto do olhar e do desejo, fala-se dele. Mas ele se cala. As mulheres não falam, não devem falar dele. O pudor que encobre seus membros ou lhes cerra os lábios é a própria marca da feminilidade."

(org.:Maria Izilda Santos de Matos. O Corpo feminino em debate)


Alguém me explica como eu conseguirei estudar enquanto eu tiver dois livros ótimos para ler, que me chamam a atenção e me tocam? Não consigo. Liderança? Politicas públicas? Ai de mim...

(Isto é quase que um grito de socorro)

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Nostalgia

E eu fazia manha, e eu fazia birra
Só pra você me chamar de linda
me puxar forte para si em um abraço
Me chamar de criança, mimada menina

E hoje não tem mais amor,
não tem mais cocegas, mãos dadas,
sorvete, cerveja, cereja

não tenho mais Caetano, na sua voz, cantando:
"Você é linda"

Meus olhos não expressam mais aquele espanto
De ser casal, do desconforto de ser dois
Você se foi, e parece que junto levou
minha alegria, aquela menina palhaça que eu tinha
Que eu era.

Desconstrução.
Afeição.

Citação - Chico Buarque

"
Mesmo que você fuja de mim
Por labirintos e alçapões
Saiba que os poetas como os cegos
Podem ver na escuridão

(...)"

(Chico Buarque

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Briga na Loja de Brinquedos

Meu Amado

Nós dois somos apenas um universo,
um mundo a parte.
O que eu sinto não cabe em um verso
e não há palavra que traduza
o sentimento que levo no peito.

Amor: palavra imperfeita para descrever
a eufória que se passa em meu ser.
Há uma revolução dentro de mim,
um antigo regime caiu e um rei tomou o poder.

Um rei reina o meu interior.
É ele que me faz rir e me faz chorar
Às vezes, os dois ao mesmo tempo.
Ele mantem a ordem e a justiça em meu reino.
E eu, como sua pobre sudita,
só tenho o meu amor para lhe ofertar.

Escrita



é, a minha escrita é assim. não descreve aquilo que realmente foi, fica entre algo que aconteceu e algo que idealizei. nunca é o que foi. o que foi, se perde, fica entrelinhas. creio que é o normal da escrita, esse perder do sentindo original. A primeira perda ocorre na hora de transformar o pensamento em palavras. A segunda, quando alguém lê essas palavras.