segunda-feira, 25 de abril de 2011

Experiência segundo Heidegger (citação)

"[...] fazer uma experiência com algo significa que algo nos acontece, nos alcança; que se apodera de nós, que nos tomba e nos transforma. Quando falamos em “fazer” uma
experiência, isso não significa precisamente que nós a façamos acontecer, “fazer” significa aqui: sofrer, padecer, tomar o que nos alcança receptivamente, aceitar, à medida que nos submetemos a algo. Fazer uma experiência quer dizer, portanto, deixar-nos abordar em nós próprios pelo que nos interpela, entrando e submetendo-nos a isso. Podemos ser assim transformados por tais experiências, de um
dia para o outro ou no transcurso do tempo"

(Heidegger)

domingo, 24 de abril de 2011

Coisas Frageis / Eu tenho um amigo...

"Enquanto escrevo isto, me ocorre que a peculiaridade da maioria das coisas que consideramos frágeis é como elas são, na verdade, fortes. Havia truques que fazíamos com ovos, quando crianças, para demonstrar que eles são, apesar de não nos darmos conta disso, pequenos salões de mármore capazes de suportar grandes pressões, e muitos dizem que o bater de asas de uma borboleta no lugar certo pode criar um furacão do outro lado de um oceano. Corações podem ser partidos, mas o coração é o mais forte dos músculos, capaz de pulsar durante toda a vida, setenta vezes por minuto, não falhando quase nunca. Até os sonhos, que são as coisas mais intangíveis e delicadas, podem se mostrar incrivelmente difíceis de matar.

Histórias, assim como pessoas, borboletas, ovos de aves canoras, corações humanos e sonhos, tmabém são coisas frágeis, feitas de nada mais forte ou duradouro do que 26 letras e um punhado de sinais de pontuação. Ou então são palavras no ar, compostas de sonhos e ideias - abstratas, invisíveis, sumindo no momento em que são pronunciadas -, e o que poderia ser mais frágil que isso? Mas algumas histórias, pequenas, simples, sobre gente embarcando em aventuras ou realizando maravilhas, contos de milagres de monstros, perduram mais do que todas as pessoas que as contaram, e algumas perduram mais do que as próprias terras onde elas foram criadas."

(Neil Gaiman)




Eu tenho um amigo com quem tive o maior numero de discussões. Nunca discuti muito com meus namorados ou amantes. Mas com esse meu amigo...

Estes dias, minha mãe foi pega de surpresa com minha afirmação bem humorada "eu e ele, bem, a gente precisa ter uma DR urgentemente". Pô, DR? É. Pois é. E eu odeio discutir relação. Aliás, odeio discutir. Fujo de conflitos. E, por fugir de conflitos é que estou adiando há meses aquilo que é urgente. Urgente porque eu amo ele, sinceramente. Urgente porque envolve laços... Urgente porque envolve um amigo perfeito. Perfeito porque ele não é perfeito, mas mesmo assim, até pouco tempo atrás, nós, dois mundinhos totalmente diferentes e imperfeitos, nos comunicávamos bem. Perfeito porque era assim que sabíamos viver nossas diferenças.

...

Toda construção de relações se mantem sobre algo tão incerto que sua fragilidade é a nossa única certeza. Perante esse fato, adiar algo tão necessário que é esta conversa, me parece tão perigoso quanto insensato.

E eu, o que estou fazendo? Eu que sempre me julguei tão sabia, tão sensata? O que estou fazendo por quem eu poderia considerar um irmão de sangue, de tão próximos que somos/erámos?

Resposta: a retardada não está fazendo nada.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Trecho de Tabacaria - Álvaro de Campos

"Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu ,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo.
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando.
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
0 mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num paço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada."

domingo, 17 de abril de 2011

Eu ainda acredito no poder das palavras.

eu sou uma sonhadora, eu ainda acredito no poder das palvras. acredito que chegaremos à algum lugas apenar com palavrar. Acredito no poder de transformação das palavras. A escrita como forma de mudança. A leitura como forma de de-formação. A leitura como forma de libertação.

"Trata-se de pensar a leitura como algo que nos forma (ou nos de-forma e nos trans-forma), como algo que nos constitui ou nos põe em questão naquilo que somos. A leitura, portanto, não é só um passatempo, um mecanismo de evasão do mundo real e do eu real. E não se reduz, tampouco, a um meio de se conseguir conhecimentos."

(Larrosa)

domingo, 10 de abril de 2011

Amantes e Viciados

Amar alguém sempre foi algo que imaginei como especial, sabe? E que estar apaixonada me faria pensar na pessoa amada tanto quanto eu respiro: sempre. Tipo um vicio. Ao mesmo tempo que te destroi, te proporciona os melhores momentos da sua vida. Não é fácil eu me sentir assim, então, quando me vejo assim, viciada, faço de tudo por "ele" - ou tudo aquilo na medida em que meu orgulho me permite fazer. Mas, até que ponto devemos largar tudo por outra pessoa?

...

No fim das contas, eu sempre, sem excessões (até o momento) largo o barco no momento em que vejo que ele não me faz feliz. Seja porque tenta me "dominar", seja porque tem falhas de que eu não posso suportar ou porque simplesmente não sinto nada. Sabe aquele momento em que os dois se olham nos olhos e não tem nada a dizer um pro outro? O momento em que pensar em revê-lo não lhe cause euforia? Eis o momento certo do adeus.

Às vezes, dizer adeus doi. Às vezes (incrivelmente) não. E mesmo assim, eu aceito que só tem uma atitude à ser tomada. Então, é muito difícil entender como há gente que continue relacionamentos por comodidade, carência ou qualquer outro motivo a partir do momento em que o outro nos torna infeliz.

Acho que nunca foi tão apaixonada ao ponto de não saber a hora de largar o vicio...

sábado, 9 de abril de 2011

One Art

Sem sombra de duvidas, o poema que mais gosto:

One Art (Bishop)

The art of losing isn't hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster.

Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn't hard to master.

Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of these will bring disaster.

I lost my mother's watch. And look! my last, or
next-to-last, of three loved houses went.
The art of losing isn't hard to master.

I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn't a disaster.


--Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan't have lied. It's evident
the art of losing's not too hard to master
though it may look like (Write it!) like disaster.