quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Desculpa para desabafo

Acabei de sair da minha aula de literatura. Como quando eu era adolescente, novamente depois de muito tempo, esse tipo de aula está me provocando vontade de escrever. E, hoje, com o conhecimento que possuo até entendo porque são nessas aulas em que me sinto inspirada... Minha professora diz que um bom leitor não apenas decodifica letras, palavras. Ele vai além disso ao pensar sobre o texto e repensar a realidade. Sobre a realidade e o ato de leitura, Alberto Manguel faz uma associação que explica o que eu quero dizer:

"A realidade trata de especificidades disfarçadas de generalidades. A literatura faz o contrário, de modo que Cem anos de solidão pode nos ajudar a entender o destino de Cartago, e os argumentos de Goneril podem nos ajudar na tarefa de traduzir o duvidoso dilema ético do general Aussaresses, o torturador de Argel. (...) se um leitor é capaz de ir além da superfície de determinado texto, tal leitor pode extrair de suas profundezas uma questão moral, mesmo que essa questão não tenha sido formulada pelo escritor com muitas palavras, pois sua presença implícita desperta no leitor, de qualquer modo, uma emoção à flor da pele, um pressentimento ou simplesmente uma lembrança de algo que conhecemos há muito tempo. Por meio dessa alquimia, todo texto literário torna-se, em certo sentido, metafórico.

(...)

A realidade, o lugar onde estamos, não pode ser visto enquanto estamos neles. É o processo de "primeiro ou de segundo grau" (que se dá por meio das imagens, da alusão, da trama) que nos permite ver onde estamos e quem somos. A metáfora, em sentido amplo, é o modo como captamos (e às vezes quase entendemos) o mundo e nosso desconcertante self. Quem sabe toda literatura possa ser entendida como metáfora."

(À Mesa com o Chapeleiro Maluco, Alberto Manguel)

É, a literatura me faz ver melhor a minha realidade. Me faz repontuar várias questões e situações... Eu fiz toda essa viagem, relembrando da minha viagem de volta para casa... E pode até parecer banal o que eu vou dizer depois de todo esse discurso, mas é o que eu tenho a dizer.

Hoje eu me lembrei de como as coisas eram diferentes há quase dois anos atrás. Lembro como dois amigos queridos me tiravam as melhores risadas, e como eu tenho saudade disso. E penso se era tão bom para eles como era para mim... E de como depois de várias mudanças em nossas vidas,de vários acertos e erros nossos, a gente foi perdendo isso. Como a gente perdeu a mania de ser feliz com as nossas coisas bobas. De um, tenho saudade das nossas piadas ácidas, de nossos papos filosóficos e das nossas besteiras (como por exemplo falar da propaganda de margarina besteirenta que tem na internet). Do outro, me arrependo de tanta coisa, e sinto falta do abraço sincero, das brincadeiras tontas e da alegria besta que ele me proporcionava. Acho que faria tudo para ter isso de volta. Porque com um, o tempo já é bem corrido (e a culpa é nossa mesma, e dessa nossa sociedade que nos faz pensar que tudo é mais importante que a construção de laços); o outro... Bem, o outro acho que já bem me esqueceu.

E, no fim, acho que só usei o Manguel para desabafar essa dorzinha desse meu coração que é tonto demais, que guia essa mulher que ainda é uma menina que se apega demais...

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