terça-feira, 16 de novembro de 2010

Entrefechada Rosa

"Está naquela idade inquieta e duvidosa,
Que não é dia claro e é já o alvorecer;
Entreaberto botão, entrefechada rosa,
Um pouco de menina e um pouco de mulher.

(...)

Quantas vezes, porém, fitando o olhar no espaço,
Parece acompanhar uma etérea visão;
Quantas cruzando ao seio o delicado braço
Comprime as pulsações do inquieto coração!

Ah! se nesse momento alucinado, fores
Cair-lhes aos pés, confiar-lhe uma esperança vã,
Hás de vê-la zombar dos teus tristes amores,
Rir da tua aventura e contá-la à mamã.

É que esta criatura, adorável, divina,
Nem se pode explicar, nem se pode entender:
Procura-se a mulher e encontra-se a menina,
Quer-se ver a menina e encontra-se a mulher!"

(Menina e Moça, Machado de Assis)

Na vida de quase toda mulher chega o momento em que ninguém mais a irá proteger, e que nem ela quer isso. Ela então aprende que é necessário falar firme se quiser ser levada a sério. Não é necessário gritar, se alterar, nada disso. Apenas falar firme, com a total convicção de que suas palavras expressam idéais importantes e sinceros. A firmeza demonstra que é sério o que você diz.

(Em falar em firmeza, como confiar num homem que não tem um aperto de mão firme? Ou em alguém que não te olha nos olhos quando fala com você? Eu não confio)

É curioso pensar que temos que ser firmes nas nossas crenças, que tenhamos que ser guerreiras e ainda ao mesmo tempo delicadas e submissas. Espera-se tanto da mulher, e ao mesmo tempo ainda estamos numa época de mudanças de valores, que fica difícil se situar e colocar no papel o que realmente queremos e o que é idealizado para nós. Idealizado para nós. Quantas idéias não tentam nos enfiar cabeça adentro? Quais são nossos verdadeiros sonhos e quantos sonhos não querem nos fazer acreditar que são nossos enquanto na realidade não são?

Meu peito se acelera perante tanta insegurança e incerteza. Construção de mim mesma. Tenho tanta saudade de minha meninice. Às vezes me canso de tantos erros e acertos. De nunca ter um cais para aportar meu navio. De andar sem norte, à minha sorte. Sem muleta. Sempre sem muleta!

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